Ao debruçar-se com grande interesse na história claudicante de Christoph Haizmann, pintor do século XVII, Freud propõe uma dialética entre elementos constituintes da neurose, psicose, melancolia e da inibição, problematizando de forma escrutinada o significado da figura paterna esboçados nas pinturas de Haizmann sobre o demônio.
Aparecendo-lhe por duas vezes, Haizmann expressa as visões que tem do demônio através de sua arte ao mesmo tempo em que realiza pactos com a entidade maléfica no intuito de obter, ao invés de riqueza e mulheres, a cura do estado depressivo em que se encontra.
As elucubrações de Freud sobre a respeito da figura paterna e sua relação com as pinturas de Haizmann apontam para a maestria das formações de compromisso, tão tantalizantes quanto os compromissos satânicos exercidos por Haizmann na tentativa inconsciente de "nos ensinar" que "aquilo que é, é o substituto do que não foi".
Trabalhando como pintor no interior da igreja de Pottenbrun, Haizmann começa a ter visões e fortes convulsões. Realiza, a partir de suas visões do demônio, pactos com este.
Qual o motivo do pacto com o demônio? Logo após a morte de seu pai, o pintor teria caído em depressão melancólica, combinada a uma inibição no trabalho. Sem mais poder exercer sua função de pintor colocava em risco sua sobrevivência e seu futuro.
FREUD, S. Uma Neurose Demoníaca do Século XVII. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1923.
Trabalhando como pintor no interior da igreja de Pottenbrun, Haizmann começa a ter visões e fortes convulsões. Realiza, a partir de suas visões do demônio, pactos com este.
Qual o motivo do pacto com o demônio? Logo após a morte de seu pai, o pintor teria caído em depressão melancólica, combinada a uma inibição no trabalho. Sem mais poder exercer sua função de pintor colocava em risco sua sobrevivência e seu futuro.
Excertos Sobre Algumas Elucubrações de Freud Contidas no Texto
...sabemos que Deus é um substituto paterno, ou, mais corretamente, que ele é um pai exaltado, ou, ainda, que constitui a cópia de um pai tal como este é visto e experimentado na infância - pelos indivíduos em sua própria infância, e pela humanidade em sua pré-história, como pai da horda primitiva e primeva. Posteriormente na vida, o indivíduo vê seu pai como algo diferente e menor. Porém, a imagem ideativa que pertence à infância é preservada e se funde com os traços da memória herdados do pai primevo para formar a ideia que o individuo tem de Deus (Freud, 1923, p. 101).
...Sabemos também, da vida secreta do indivíduo revelada pela análise, que sua relação com o pai for talvez ambivalente desde o início, ou, pelo menos, cedo veio a ser assim. Isso equivale a dizer que ela continha dois conjuntos de impulsos emocionais que se opunham mutuamente; continha não apenas impulsos de natureza afetuosa e submissa, mas também impulsos hostis e desafiadores. É nossa opinião que a mesma ambivalência dirige as relações de nossa humanidade com sua Divindade (Freud, 1923, p. 101).
Primeira e Segunda Aparição do Demônio Revelando a Relação de Ambivalência para com o Pai:
Primeira visão do Demônio pelo pintor C. Haizmanm. O Diabo aparece aqui como uma figura honesta, um cidadão de barbas, bem vestido, enfim, o pai que nos ama reciprocamente.
Aqui já temos uma figura terrificante de pai, com chifres, garras e asas de morcego tendo uma forma bastante bizarra.
...Não é preciso muita perspicácia para adivinhar que Deus e o Demônio eram originalmente idênticos - uma figura única posteriormente cindida em duas figuras com atributos opostos. Nas épocas primitivas da religião o próprio Deus ainda possuía todos os aspectos terrificantes que mais tarde se combinaram para formar uma contraparte dele (Freud, 1923, p. 102).
...Se o Deus benevolente e justo é um substituto do pai, não é de admirar que também sua atitude hostil para com o pai, que é uma atitude de odiá-lo, temê-lo e fazer queixas contra ele, ganhe expressão na criação de Satã (Freud, 1923, p. 102).
... o Demônio exibe, além de dois seios, um grande pênis terminando por uma serpente (Freud, 1923, p. 105).
... por que deveria seu pai, após ser reduzido á condição de Demônio, portar essa marca física de uma mulher? A característica, a princípio, parece difícil de interpretar, porém logo encontramos duas explicações que competem uma com a outra, sem se excluírem mutuamente. A atitude feminina de um menino com o pai sofre repressão tão logo ele compreende que sua rivalidade com uma mulher pelo amor do pai tem, como precondição, a perda de seus próprios órgãos genitais masculinos - em outras palavras: a castração (Freud, 1923, p. 106).
...O repúdio da atitude feminina é, assim, o resultado de uma revolta contra a castração. ELA NORMALMENTE ENCONTRA SUA EXPRESSÃO MAIS FORTE NA FANTASIA INVERSA DE CASTRAR O PAI. Desse modo, os seios do Demônio corresponderiam a uma projeção da própria feminilidade do indivíduo sobre o substituto paterno (Freud, 1923, p. 106).
... aceitar a castração lhe tornou impossível apaziguar seu anseio pelo pai, é perfeitamente compreensível que tenha voltado para a imagem da mãe em busca de auxílio e salvação (Freud, 1923, p. 106).
... A segunda explicação desses acréscimos femininos ao corpo do Diabo não tem mais um sentido hostil, mas afetuoso. Ela vê na adoção dessa forma uma indicação de que os sentimentos ternos da criança pela mãe foram deslocados para o pai, e isso sugere que houve previamente intensa fixação na mãe, fixação que, por sua vez, é responsável por parte da hostilidade da criança para com o pai (Freud, 1923, p. 106).
...Sabemos também, da vida secreta do indivíduo revelada pela análise, que sua relação com o pai for talvez ambivalente desde o início, ou, pelo menos, cedo veio a ser assim. Isso equivale a dizer que ela continha dois conjuntos de impulsos emocionais que se opunham mutuamente; continha não apenas impulsos de natureza afetuosa e submissa, mas também impulsos hostis e desafiadores. É nossa opinião que a mesma ambivalência dirige as relações de nossa humanidade com sua Divindade (Freud, 1923, p. 101).
Primeira e Segunda Aparição do Demônio Revelando a Relação de Ambivalência para com o Pai:
Quadros do Pintor de C. Haizmann Retratando as supostas Aparições
Primeira visão do Demônio pelo pintor C. Haizmanm. O Diabo aparece aqui como uma figura honesta, um cidadão de barbas, bem vestido, enfim, o pai que nos ama reciprocamente.
Aqui já temos uma figura terrificante de pai, com chifres, garras e asas de morcego tendo uma forma bastante bizarra.
...Não é preciso muita perspicácia para adivinhar que Deus e o Demônio eram originalmente idênticos - uma figura única posteriormente cindida em duas figuras com atributos opostos. Nas épocas primitivas da religião o próprio Deus ainda possuía todos os aspectos terrificantes que mais tarde se combinaram para formar uma contraparte dele (Freud, 1923, p. 102).
...Se o Deus benevolente e justo é um substituto do pai, não é de admirar que também sua atitude hostil para com o pai, que é uma atitude de odiá-lo, temê-lo e fazer queixas contra ele, ganhe expressão na criação de Satã (Freud, 1923, p. 102).
... o Demônio exibe, além de dois seios, um grande pênis terminando por uma serpente (Freud, 1923, p. 105).
... por que deveria seu pai, após ser reduzido á condição de Demônio, portar essa marca física de uma mulher? A característica, a princípio, parece difícil de interpretar, porém logo encontramos duas explicações que competem uma com a outra, sem se excluírem mutuamente. A atitude feminina de um menino com o pai sofre repressão tão logo ele compreende que sua rivalidade com uma mulher pelo amor do pai tem, como precondição, a perda de seus próprios órgãos genitais masculinos - em outras palavras: a castração (Freud, 1923, p. 106).
...O repúdio da atitude feminina é, assim, o resultado de uma revolta contra a castração. ELA NORMALMENTE ENCONTRA SUA EXPRESSÃO MAIS FORTE NA FANTASIA INVERSA DE CASTRAR O PAI. Desse modo, os seios do Demônio corresponderiam a uma projeção da própria feminilidade do indivíduo sobre o substituto paterno (Freud, 1923, p. 106).
... aceitar a castração lhe tornou impossível apaziguar seu anseio pelo pai, é perfeitamente compreensível que tenha voltado para a imagem da mãe em busca de auxílio e salvação (Freud, 1923, p. 106).
... A segunda explicação desses acréscimos femininos ao corpo do Diabo não tem mais um sentido hostil, mas afetuoso. Ela vê na adoção dessa forma uma indicação de que os sentimentos ternos da criança pela mãe foram deslocados para o pai, e isso sugere que houve previamente intensa fixação na mãe, fixação que, por sua vez, é responsável por parte da hostilidade da criança para com o pai (Freud, 1923, p. 106).
BIBLIOGRAFIA
FREUD, S. Uma Neurose Demoníaca do Século XVII. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1923.


