quinta-feira, 26 de março de 2015

Narcisismo de Vida; Narcisismo de Morte: André Green e o Desejo.

André Green, na sua obra intitulada " Narcisismo de Vida/Narcisismo de Morte, discorre sobre o que é o desejo e nos brinda com a seguinte passagem:

O QUE É O DESEJO? Indo mais além das definições conhecidas que não retomaremos, diremos que o desejo é o movimento pelo qual o sujeito é descentrado, isto é, que a busca do objeto da satisfação, do objeto da falta, faz o sujeito viver a experiência de que seu centro não está mais nele mesmo, que está fora de si num objeto do qual está separado, ao qual tenta se reunir para reconstituir seu centro, por meio da unidade - identidade reencontrada - no bem-estar consecutivo à experiência de satisfação.

Bibliografia:

Green, A. Narcisismo de Vida/Narcisismo de Morte. São Paulo: Escuta Ed. 1988.

domingo, 15 de março de 2015

Excertos de: Os Sofrimentos do Jovem Werther - J.W.Goethe

                                                     

       Mas também os adultos, como as crianças, caminham pela terra com um andar indeciso e, como elas - não sabendo de onde vem nem para onde vão - agem tão pouco visando um fim verdadeiro; e são, do mesmo modo, governados com biscoitos, doces e açoites. 
        Trata-se de algo em que ninguém, acredita, mas, para mim, é a verdade mais palpável e evidente.
         
         Confesso-lhe com tranquilidade ( pois sei o que você me responderia ) que são mais felizes aqueles que, como as crianças, vivem despreocupadamente o cotidiano, levam suas bonecas para passear, vestem-nas, despem-nas, rondam, com um respeito enorme, o armário onde a mamãe trancou os doces e, quando conseguem a guloseima cobiçada, engolem-na avidamente, gritando: " Mais!...".

            São criaturas felizes. E também são felizes os que dão nomes pomposos às suas ocupações frívolas, ou mesmo às suas paixões, e consideram-nas como obras de gigantes, empreendidas para a salvação e a prosperidade da sociedade humana.                                               

             Bem-venturados os que podem viver assim! Mas quem reconhece com humildade para onde as coisas se conduzem observa também como todo burguês feliz sabe transformar seu pequeno jardim em um paraíso; e vê com que ardor também o miserável prossegue em sua rota, suportando o peso do fardo, pois todos, em suma, aspiram igualmente a desfrutar, um minuto a mais, a luz do sol - quem observa tudo isso resta tranquilo e também feliz, porque compartilha a existência humana. 
               E, por mais limitados os seus poderes, traz sempre no coração o doce sentimento da liberdade e sabe que poderá deixar este cárcere quando quiser.

  



sábado, 5 de outubro de 2013

Excertos de: "André Green e a Fundação Squiggle"


Antes de prosseguir, aproveitarei a oportunidade para dizer que discordo da noção de representação do self. Para Freud - e acho que ele está certo - há apenas representações do objeto. O ego não pode olhar para si mesmo. Tem apenas de confrontar a representação proporcionada pelas outras instâncias. Não se deve confundir imagem corporal com o ego.

" O ego não é mais que um agente de transformação relacionando-se com a realidade, tendo acesso a motilidade de modo a promover a ação ".

Uma função desempenha o papel de vinculação com o sujeito: IDENTIFICAÇÃO. Depois de Freud, Lacan mostrou que o papel da identificação é capturar o ego.

sábado, 10 de agosto de 2013

Série - Grandes Insights de Freud.

        Para vislumbrar, tentar ver melhor, o dispositivo óptico que Freud nos legou é monumental. A começar pelo texto fundador pelo qual ele gostaria de ser reconhecido do ponto de vista testamentário. A interpretação dos sonhos (1900). Ele vislumbrou até mesmo a placa comemorativa afixada na casa onde viveu. Ele queria ser reconhecido por sua doutrina sobre os sonhos. Os escritos de Freud e suas invenções gráficas para indicar o contexto psicanalítico de palavras do cotidiano, como consciente, inconsciente, castração, psique, e seu amor pelas estatuetas antigas constituem parte do impressionante acervo de seu laboratório óptico.

Freud chego a criar uma língua, a língua psicanalítica, para traduzir o que via. Nisso foi um autor inclusive premiado. No cotidiano, criou o dispositivo do divã, afastando o interlocutor do seu olhar e afastando-se por sua vez, do olhar do seu interlocutor.

"a cura psicanalítica, seguindo a doutrina do fundador, é a possibilidade de o sonhador traduzir em palavras o que viu". (nos sonhos, expressão máxima do inconsciente).

O intérprete do sonho cria ou reencontra as próprias imagens, que serão, por sua vez, transmitidas pela palavra.



BIBLIOGRAFIA:

Memórias da Psicanálise - Revista Mente e Cérebro  2ª edição. DuettoEditorial, São Paulo, 2009.


sábado, 24 de novembro de 2012

Conversando com Joseph Campbell.

             
               Os mensageiros animais,enviados pelo Poder Invisível, já não servem mais, como nos tempos primevos, para ensinar e guiar a humanidade. Ursos, leões, elefantes, lobos e gazelas estão nas jaulas de nosso zoológicos. 
              O homem não é mais o recém-chegado a um mundo de planícies e florestas inexploradas, e nossos vizinhos mais próximos não são as bestas selvagens, mas outros seres humanos, lutando por bens e espaço, num planeta que gira sem cessar ao redor da bola de fogo de uma estrela.               Nem em corpo nem em alma habitamos o mundo daquelas raças caçadoras do milênio paleolítico, a cujas vidas e caminhos de vida, no entanto devemos a própria forma dos nossos corpos e a estrutura das nossas mentes. 
              Lembranças de suas mensagens animais devem estar adormecidas, de algum modo, em nós, pois ameaçam despertar e se agitam quando nos aventuramos em regiões inexploradas. Elas despertam com o terror do trovão. E voltam a despertar, com uma sensação de reconhecimento, quando entramos numa daquelas grandes cavernas pintadas. Qualquer que tenha sido a escuridão interior em que os xamãs daquelas cavernas mergulharam, em seus transes, algo semelhante deve estar adormecido em nós, e nos visita à noite, no sono.

Joseph Campbell - O PODER DO MITO.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O inconsciente e o Gozo

Ser consciente de uma coisa significa ter na cabeça a coisa e o nome que a designa. Por isso diremos, por exemplo, que o inconsciente se serve das palavras do pré-consciente para ser ouvido.
O inconsciente fala com as palavras do pré-consciente. Em outros termos, quando a pulsão inconsciente se exterioriza, ela entra na zona pré-consciente, se associa a uma palavra que lhe convém e, sob esse disfarce, torna-se perceptível para a consciência. Em suma, só perceberemos nosso inconsciente mediante nossa consciência. A consciência capta o inconsciente na forma de uma palavra surpreendente pronunciada por nossa boca ou pela de um outro.
        No entanto, nessa dinâmica entre inconsciente, o pré-consciente e o consciente, onde situamos o gozo? Como ele é percebido pela consciência? Ou então, como o objeto é percebido? Justamente, o gozo é essa parte do inconsciente que, quando se exterioriza, não encontra palavras para se dizer., como se atravessasse o pré-consciente sem nele se demorar. A partir daí, como é que ele se manifesta, a não ser por excrescências mórbidas no corpo (psicossomática) ou na ação (passagem ao ato)? (Násio, 2011).


Bibliografia


NASIO, J.D. Os Olhos de Laura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2011.